Associação desmonta narrativa de "exploração" utilizada pelo governo Trump para atacar o Mais Médicos e sancionar gestores públicos ligados ao programa

Médicos cubanos ao desembarcarem no Brasil no início do programa Mais Médicos, em 2013.Créditos: José Cruz/Agência Brasil/Arquivo
Escrito en GLOBAL el 16/8/2025 · 07:10 hs
A Associação dos Médicos Cubanos no Brasil (Aspromed) repudiou as sanções impostas pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, a autoridades brasileiras ligadas ao programa Mais Médicos e desmentiu a acusação de que a cooperação entre Brasil e Cuba teria promovido “trabalho forçado”.
Em nota divulgada nesta sexta-feira (15), a entidade ressaltou que o Mais Médicos é uma política pública com objetivo de garantir o direito à saúde para todos, “especialmente para a população de baixa renda que vive em regiões menos privilegiadas por todo o país”. A Aspromed afirmou que os profissionais cubanos sempre atuaram com ética, profissionalismo e respeito às comunidades atendidas.
“Muitos já naturalizados, com famílias brasileiras e laços afetivos profundos com o país, continuarão atuando com dedicação junto às comunidades mais carentes, levando atendimento e cuidado a pessoas que vivem em condições adversas, nos rincões mais distantes do território nacional”, destacou.
Segundo a associação, os 18 mil médicos que passaram pelo programa realizaram cerca de 63 milhões de atendimentos, “fortalecendo e legitimando o maior sistema de saúde do mundo, universal, público e gratuito, o SUS”. A nota também enfatiza que o Mais Médicos foi responsável por levar profissionais para pequenas cidades e distritos indígenas historicamente desassistidos, além de periferias urbanas, “onde antes o acesso à saúde era um privilégio raro”.
Ofensiva de Trump contra o Mais Médicos e autoridades brasileiras
As sanções anunciadas nesta semana pelo Departamento de Estado incluem a revogação dos vistos de Mozart Julio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde; Alberto Kleiman, ex-assessor do Ministério da Saúde e atual coordenador-geral para a COP30; além da cassação dos vistos da esposa e filha do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) também foram atingidos.
O secretário de Estado Marco Rubio justificou as medidas com a alegação de que os gestores brasileiros teriam contribuído para um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano” por meio do Mais Médicos. A Aspromed afastou a tese e reafirmou que os médicos que permaneceram no Brasil o fizeram por decisão própria, muitos já plenamente integrados à sociedade brasileira desde o fim do convênio em 2018.
Reação de Padilha: “Ato covarde” e tentativa de intimidação
O ministro Alexandre Padilha classificou a decisão dos EUA como “ato covarde”, destacando o impacto pessoal da medida: “É um ato covarde, que atinge uma criança de 10 anos de idade e que atinge minha esposa”. Para ele, trata-se de uma “tentativa de intimidar quem não abaixa a cabeça para Trump, quem não bate continência para bandeira dos Estados Unidos”.
Padilha lembrou que criou o programa em 2013 e que atualmente não há médicos cubanos atuando no Brasil, embora parcerias semelhantes existam “em dezenas de países, de presidentes e primeiros-ministros de direita, de esquerda e de todos os espectros políticos” sem sofrer sanções. “Qual a explicação que não tem qualquer tipo de sanção, qualquer crítica a esses outros países?”, questionou.
O ministro também rememorou o período em que viveu afastado do pai, exilado após ser torturado durante a ditadura, e afirmou que não permitirá que intimidações externas interfiram no compromisso com a saúde pública: “Nós vamos defender a democracia do nosso país, continuar cuidando da saúde do povo brasileiro, independente de qualquer tentativa de intimidação, de ataque covarde que qualquer governo faça contra mim, minha família que é forjada nessa luta. Nós vamos continuar seguindo em frente”.
Escalada de hostilidade contra o Brasil
A medida contra o Mais Médicos é parte de uma série de ataques de Washington ao governo Lula nos últimos meses. A gestão Trump já impôs tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, cassou vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), sancionou o ministro Alexandre de Moraes e, agora, mira autoridades e ex-integrantes de um programa de saúde que é reconhecido internacionalmente.
Essa escalada conta com apoio explícito de Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado e prestes a ser preso, e seus filhos e aliados, que articulam nos bastidores a ofensiva contra o Brasil. O objetivo é fragilizar políticas sociais estratégicas e pressionar o país a alinhar-se politicamente aos interesses norte-americanos, visando uma mudança de regime.
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