"Eventos históricos e marcos na vida mostram como o tempo é eficaz para ajudar a entender uma sequência histórica. Assim, longe da política tradicional, das cidades, das indústrias, dos chamados tempos modernos, da filosofia, das ciências... Contudo, Deus ordena o melhor: a vida. É possível imaginar a alegria dos meus pais e da parteira com mais um ser neste mundo de bilhões. Talvez, pelo rádio, pudessem ouvir sobre o movimento na cidade de Kubitschek, um novo regime. Mas, ali na colocação Chapéu, Seringal São José, Rio Tarauacá – 6 de julho de 1965 – era mata bruta, igarapé afluente, casa de madeira roliça, paredes e assoalho de paxiúba, e o conhecimento era do senso comum.
O tempo não para. A rotina era de trabalho e, sem o ECA e sem programas sociais, a tônica era começar cedo. Minha mãe dizia com alegria: “Esse aí conheceu cedo: cabo do terçado, cabo da enxada, bola de cevar, oito da estrada, paneiro de cipó titica, pigo do meio-dia, pau de carregar banana, o cabeça de macaco – inteligente!” Meu pai, visionário, professor e filósofo ao seu modo, ensinava matemática com caroços de milho na paxiúba, quadro de estopa, e dizia: “Meus filhos não vão ser criados no mato. Vamos embora, e vocês vão ser doutores.”
Chegou o dia de deixar para trás: a casa, o roçado de macaxeira, o bananal, o paiol com milho e arroz, a praia com melancia e os animais domésticos. Deu medo. Meu pai sabia cortar seringa e caçar, e para onde íamos não havia seringueira nem caça. Mesmo assim, viemos: pai, mãe, cinco filhos, uma lata de banha com mixira, fé e coragem. A estrada foi o Rio Tarauacá rumo à cidade: o barulho do motor, pessoas desconhecidas, canoa apertada... estávamos indo.
Depois de dias, ouvi conversas. Chegamos na boca dos rios e avistamos a cidade. O agito tomou conta. Quando a canoa encostou, vi a cidade pela primeira vez e me surpreendi com a quantidade de barcos e balsas no porto, pessoas andando apressadas, muitas casas... Estranho! Alegria se misturava ao medo da realidade. Era maio de 1975.
A ideia era morar na cidade, o que assustou meus pais, mas o senhor nos levou para a colônia Mandacaru, Comunidade 18 Praias – Rio Muru. E, por certo, já se cumpria a visão do seringueiro, porque ali pertinho, só uma volta, já estava a Escola Lídia Guiomard dos Santos, palco das primeiras letras. Logo percebi que “o sol da escola é mais frio que o sol do roçado”. Em dois anos, a escolinha e a professora de sala multisseriada já eram pouco: hora de fazer uma nova arrancada – desta vez para a cidade, em busca de continuar estudando. Fui na coragem, pois meus pais não tinham condições financeiras de me sustentar na cidade. Logo, precisei trabalhar: fui vender picolé. Agora estava tudo certo. Minha mãe fez carvão, vendeu, comprou um corte de tergal azul-marinho e, como era costureira, fez minha calça da farda. Um detalhe: eu estava trombudo porque queria um Kichute, mas, do mercado municipal até a casa onde eu ia ficar, minha mãe me explicou e deixou bem claro: “Não comprei porque eu não posso.” Por vezes, ela olhava pros lados para que eu não visse, mas ela chorava.
Agora, na cidade, o jovem corajoso, decidido, firme no propósito plantado por seus pais, buscava ser um homem bom, baseado no trabalho, na humildade, no respeito, na honestidade, enfim... A história descreve uma trajetória que já estava firmada por Deus desde o princípio. O que fiz foi cuidar do que me foi dado como oportunidade.
E o menino que cedo conheceu as dificuldades de seu tempo, conheceu também os bancos da Escola Lídia Guimarães dos Santos, da Escola João Ribeiro, da Escola Dr. Djalma da Cunha Batista, da Universidade Federal do Acre, da Universidade Federal do Amazonas e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ouro Fino, Minas Gerais. E mais: conheceu a Praça dos Três Poderes – Brasília, a Praia de Copacabana – RJ, a Avenida Paulista – SP, por exemplo. Se não tenho dinheiro, tenho orgulho de estar por aqui desde 1965, honrando bons princípios: sem drogas, sem violência, sem prejudicar as pessoas, sem invejar o patrimônio alheio, e satisfeito por ser arrimo de família desde jovem, por ter carteira assinada como servente de pedreiro, por ser servidor público, por ter sido eleito diretor de escola sete vezes, por ter o amor dos meus filhos e de tantos outros.
Em vista disso, peço desculpas pelos erros nesta vida, que de fato ocorrem por nossa natureza humana, e perdão nos casos em que assim for necessário. Gratidão à família e obrigado à sociedade de Tarauacá pelo carinho. E, para além da família e das pessoas amigas, agradeço a Deus Pai, o Criador; a Deus Filho, o Salvador; e a Deus Espírito Santo, o companheiro fiel e cuidador da alma, que até aqui me sustentou. Do passado, tenho boas lembranças, o que me dá base legal para o presente de satisfação. Não me recordo de mágoas. É possível que tenha emoções reprimidas. E o futuro? Tenho planos, objetivos, metas... mas isso está nas mãos do Senhor, porque: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” (Gálatas 2:20). Sou apenas o mordomo, para cuidar com zelo do que a mim é entregue.
“A gratidão e a positividade são a chave para uma vida feliz.”
Muito Obrigado!!!!!!!!"
Francisco das Chagas Silva de Souza, 06/07/2025
O tempo não para. A rotina era de trabalho e, sem o ECA e sem programas sociais, a tônica era começar cedo. Minha mãe dizia com alegria: “Esse aí conheceu cedo: cabo do terçado, cabo da enxada, bola de cevar, oito da estrada, paneiro de cipó titica, pigo do meio-dia, pau de carregar banana, o cabeça de macaco – inteligente!” Meu pai, visionário, professor e filósofo ao seu modo, ensinava matemática com caroços de milho na paxiúba, quadro de estopa, e dizia: “Meus filhos não vão ser criados no mato. Vamos embora, e vocês vão ser doutores.”
Chegou o dia de deixar para trás: a casa, o roçado de macaxeira, o bananal, o paiol com milho e arroz, a praia com melancia e os animais domésticos. Deu medo. Meu pai sabia cortar seringa e caçar, e para onde íamos não havia seringueira nem caça. Mesmo assim, viemos: pai, mãe, cinco filhos, uma lata de banha com mixira, fé e coragem. A estrada foi o Rio Tarauacá rumo à cidade: o barulho do motor, pessoas desconhecidas, canoa apertada... estávamos indo.
Depois de dias, ouvi conversas. Chegamos na boca dos rios e avistamos a cidade. O agito tomou conta. Quando a canoa encostou, vi a cidade pela primeira vez e me surpreendi com a quantidade de barcos e balsas no porto, pessoas andando apressadas, muitas casas... Estranho! Alegria se misturava ao medo da realidade. Era maio de 1975.
A ideia era morar na cidade, o que assustou meus pais, mas o senhor nos levou para a colônia Mandacaru, Comunidade 18 Praias – Rio Muru. E, por certo, já se cumpria a visão do seringueiro, porque ali pertinho, só uma volta, já estava a Escola Lídia Guiomard dos Santos, palco das primeiras letras. Logo percebi que “o sol da escola é mais frio que o sol do roçado”. Em dois anos, a escolinha e a professora de sala multisseriada já eram pouco: hora de fazer uma nova arrancada – desta vez para a cidade, em busca de continuar estudando. Fui na coragem, pois meus pais não tinham condições financeiras de me sustentar na cidade. Logo, precisei trabalhar: fui vender picolé. Agora estava tudo certo. Minha mãe fez carvão, vendeu, comprou um corte de tergal azul-marinho e, como era costureira, fez minha calça da farda. Um detalhe: eu estava trombudo porque queria um Kichute, mas, do mercado municipal até a casa onde eu ia ficar, minha mãe me explicou e deixou bem claro: “Não comprei porque eu não posso.” Por vezes, ela olhava pros lados para que eu não visse, mas ela chorava.
Agora, na cidade, o jovem corajoso, decidido, firme no propósito plantado por seus pais, buscava ser um homem bom, baseado no trabalho, na humildade, no respeito, na honestidade, enfim... A história descreve uma trajetória que já estava firmada por Deus desde o princípio. O que fiz foi cuidar do que me foi dado como oportunidade.
E o menino que cedo conheceu as dificuldades de seu tempo, conheceu também os bancos da Escola Lídia Guimarães dos Santos, da Escola João Ribeiro, da Escola Dr. Djalma da Cunha Batista, da Universidade Federal do Acre, da Universidade Federal do Amazonas e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ouro Fino, Minas Gerais. E mais: conheceu a Praça dos Três Poderes – Brasília, a Praia de Copacabana – RJ, a Avenida Paulista – SP, por exemplo. Se não tenho dinheiro, tenho orgulho de estar por aqui desde 1965, honrando bons princípios: sem drogas, sem violência, sem prejudicar as pessoas, sem invejar o patrimônio alheio, e satisfeito por ser arrimo de família desde jovem, por ter carteira assinada como servente de pedreiro, por ser servidor público, por ter sido eleito diretor de escola sete vezes, por ter o amor dos meus filhos e de tantos outros.
Em vista disso, peço desculpas pelos erros nesta vida, que de fato ocorrem por nossa natureza humana, e perdão nos casos em que assim for necessário. Gratidão à família e obrigado à sociedade de Tarauacá pelo carinho. E, para além da família e das pessoas amigas, agradeço a Deus Pai, o Criador; a Deus Filho, o Salvador; e a Deus Espírito Santo, o companheiro fiel e cuidador da alma, que até aqui me sustentou. Do passado, tenho boas lembranças, o que me dá base legal para o presente de satisfação. Não me recordo de mágoas. É possível que tenha emoções reprimidas. E o futuro? Tenho planos, objetivos, metas... mas isso está nas mãos do Senhor, porque: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” (Gálatas 2:20). Sou apenas o mordomo, para cuidar com zelo do que a mim é entregue.
“A gratidão e a positividade são a chave para uma vida feliz.”
Muito Obrigado!!!!!!!!"
Francisco das Chagas Silva de Souza, 06/07/2025
Fonte: blog do accioly