A dança das facas

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A dança das facas
Fotos: Arquivo
Marcio Bittar enxotou Tião Bocalom do PSDB. É um fato conhecido, ao qual não se pode opor o mais melífluo argumento, a mais malandra das escusas. É um fato também que Bittar e Bocalom não suportam um ao outro. E se não dizem isso de público é porque, neste momento, a conveniência da ocultação se sobrepõe à sinceridade da exposição dos sentimentos mútuos.
Alguns acontecimentos precisam ser relembrados. Antes mesmo de afirmar na TV, por exemplo, que o PSDB era conduzido por um coronel de barranco, o parlamentar tucano fizera chegar à nacional do partido um dossiê contra o desafeto. Entregou o documento nas mãos da senadora Marisa Serrano. Mais nada tinha a dizer, já que o texto narrava, em minúcias, as ações de Bocalom que acarretavam o encolhimento da sigla no Acre. Pior que a trama contra o antigo correligionário, só mesmo os detalhes sórdidos a que desceu o deputado contra os que lhe eram leais.
Subjugado o PSDB com a força do mandato e ao peso das intrigas, Bittar iniciou a faxina. Demitiu, inclusive (e sem trocadilho), a faxineira por demonstrar-se simpática ao patrão guilhotinado. E tratou deexpurgar da sigla qualquer laivo de antiga lealdade. Promovidos os cúmplices, Marcio Bittar mandou erguer um portão à entrada na tentativa de afastar os indesejados. E também passou a chave nas portas, pois não queria ver aboletados nas novas cadeiras seus mais recentes adversários.
Um ano após a humilhação sofrida, Tião Bocalom prefere não admitir em público o que sente por Marcio Bittar. O que eles pensam um do outro só pode ser apreendido do que dizem os aliados de ambos. E, assim, fica-se sabendo que se detestam.
Nesse quesito, tanto os confidentes de Bocalom quanto os de Marcio Bittar são bem mais honestos que eles quando se trata de denegrir o guia alheio. Os de Bocalom, por exemplo, já disseram em público quem está por trás das reiteradas tentativas de retirar-lhe a pré-candidatura ao governo do Acre. Os de Bittar costumam se referir a Bocalom como um democrata com ojeriza à democracia.
E o sacrifício de ambos em não desancar publicamente um ao outro contrasta com o que costumam conversar no particular com seus assessores. Não apenas isso: se a convivência dos dois foi impossível no mesmo partido, onde as prerrogativas da liderança mudaram de mãos de forma traumática, o que esperar de um suposto segundo turno, no qual o apoio de um poderia significar a coroação do outro?
Creio que da proximidade das eleições – e o que isso representa como possíveis alianças políticas nofuturo – decorre até mesmo a deturpação infamante dos fatos. Pois foi o próprio Bocalom quem outro dia afirmou que o governo do PT é quem o quer fora da disputa, contrariando aliados seus que tinham ido à imprensa debitar na conta do deputado federal tucano todas as tentativas de boicote à sua pré-candidatura.
A maldosa anedota segundo a qual o sujeito manda pôr fogo no sofá, depois de flagrar nele a traição da esposa com o vizinho, é perfeita para este caso. Bocalom foi traído por Bittar, e Bittar alega ter sido traído pelo primeiro em um acordo de que o apoiaria para o governo estadual. Para ambos, as infidelidades devem ser reparadas com a incineração de um móvel!
E enquanto ambos brigam pela primazia de ser, cada um por seu lado, a “verdadeira oposição” ao governo petista, num festival de perorações sobre os problemas do Acre, muito pouco ou quase nada se ouve de propostas minimamente coerentes e exequíveis como contrapartida a essa falação.
Ex-prefeito de uma cidade pequena do interior do Estado, Tião Bocalom ainda não conseguiu convencer o eleitorado de que é capaz de governar Rio Branco ou o Acre. Quanto a Marcio Bittar, toda a sua “brilhante” carreira política se resume a três mandatos no legislativo – dos quais sai cada vez mais desacreditado.
Os brasileiros em geral, e os acreanos em particular, temem as aventuras na administração pública. Mas ainda toleramos os que, na política, dançam de rosto colado enquanto mantêm uma das mãos no cabo da faca.
Archibaldo Antunes – ark30antunes@bol.com.br – * Jornalista
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