Presidente articula resposta coordenada à sobretaxa de 50% imposta pelos EUA e reforça defesa da soberania nacional

Brasília (DF), 08/07/2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em cerimônia oficial no Palácio da Alvorada (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
247 - Em resposta ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou neste domingo (13) um comitê interministerial para avaliar os impactos econômicos da medida e articular uma estratégia de reação. A informação é do jornal Folha de S.Paulo.
O comitê será composto inicialmente pelos ministérios da Fazenda (Fernando Haddad), Relações Exteriores (Mauro Vieira) e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Geraldo Alckmin), além de representantes da Casa Civil, da Secretaria de Relações Institucionais, da Secom e da Agricultura. Outros ministérios serão integrados conforme a pauta setorial de cada segmento atingido.
Lula comunicou aos ministros que ele próprio se reunirá com os empresários dos setores mais afetados, como parte da estratégia de escuta direta e construção de uma linha de negociação com o governo norte-americano. Entre os produtos que sofrerão mais com a medida estão laranja, carne bovina, celulose, café e etanol.
De acordo com fontes presentes no encontro, Lula orientou sua equipe a manter “firmeza e sobriedade” diante da investida norte-americana. O presidente afirmou que as negociações com os EUA devem se restringir ao campo econômico e reiterou que não aceitará discutir assuntos internos brasileiros — como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro — nas tratativas comerciais. “A defesa das instituições e da soberania nacional não estão na mesa de negociação”, declarou.
A tarifa de 50% anunciada por Trump entrará em vigor a partir de 1º de agosto, substituindo a sobretaxa de 10% que já vinha sendo aplicada desde abril. No caso do etanol, por exemplo, a alíquota de importação passará dos atuais 12,5% para 52,5%. Produtos já sujeitos a tarifas setoriais, como aço e alumínio, não serão afetados pela nova medida.
O Palácio do Planalto avalia que é necessário mapear com precisão os efeitos econômicos, tanto para o Brasil quanto para os próprios Estados Unidos, da adoção da nova tarifa, antes de partir para uma mesa de negociação. A aposta é que uma resposta articulada e embasada tecnicamente possa abrir espaço para uma eventual flexibilização por parte de Washington.
A medida de Trump vem embalada por pressões políticas. Ao anunciar o tarifaço, o presidente dos EUA condicionou o fim das sobretaxas à suspensão do julgamento de Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado, além de ter criticado decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) — como a que autoriza a remoção automática de conteúdos criminosos por plataformas digitais.
Lula, que já havia rechaçado publicamente qualquer ingerência sobre o julgamento de Bolsonaro, reforçou seu apoio ao STF. O presidente do Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, também reagiu às declarações de Trump neste domingo, afirmando, em carta pública, que as sanções americanas se baseiam em “compreensão imprecisa dos fatos” ocorridos no Brasil.
Ao mobilizar seus principais ministérios e se comprometer com o diálogo direto com o setor produtivo, Lula aposta na construção de uma resposta diplomática firme, mas orientada pelo pragmatismo econômico. A iniciativa busca, ao mesmo tempo, proteger os interesses do Brasil e preservar os valores democráticos do país diante da ofensiva de Washington.
A primeira reunião com os empresários deve ocorrer nos próximos dias. A depender dos desdobramentos, o Brasil poderá levar o caso a fóruns internacionais, como a OMC (Organização Mundial do Comércio), caso as negociações bilaterais não avancem.
Por brasil247.com