Procter & Gamble, Swatch e outras gigantes anunciam aumentos de preços após tarifas impostas pelo presidente dos EUA

Donald Trump em Turnberry - 28/7/2025 (Foto: Christopher Furlong/Pool via REUTERS)
247 – Produtos do cotidiano nos Estados Unidos, como detergentes Tide e papel toalha Bounty, estão prestes a ficar mais caros. Segundo reportagem publicada pela Reuters nesta segunda-feira (29), empresas como a Procter & Gamble já anunciaram reajustes de preços em resposta direta à nova rodada de tarifas sobre importações impostas pelo presidente Donald Trump em seu segundo mandato.
As medidas protecionistas, celebradas por Trump como parte da “Liberação Econômica” iniciada em 2 de abril, começam agora a mostrar seus efeitos práticos na economia real — especialmente no bolso dos consumidores norte-americanos. A Procter & Gamble informou que aumentará os preços de aproximadamente 25% de seus produtos a partir da próxima semana, com reajustes médios na casa de “dígitos simples”, segundo um porta-voz da companhia.
Pressão sobre os consumidores
As tarifas vêm impondo dilemas às grandes corporações, que precisam escolher entre reduzir margens de lucro ou repassar os custos adicionais aos consumidores. No caso da Procter & Gamble, a estratégia envolve as duas coisas: rever lucros e reajustar preços. A empresa também divulgou uma projeção negativa para o restante de 2025.
“O consumidor norte-americano vai começar a sentir no dia a dia o impacto da guerra comercial de Trump”, afirmou Bill George, ex-presidente da Medtronic e professor em Harvard. “Você vai ver empresas como Walmart, Amazon e Best Buy repassando os aumentos ao consumidor. A Main Street [consumidor comum] ainda não viu as consequências — mas elas estão chegando.”
Perdas bilionárias e inflação retardada
Entre os dias 16 e 25 de julho, empresas monitoradas pela ferramenta global de tarifas da Reuters reportaram perdas previstas entre US$ 7,1 bilhões e US$ 8,3 bilhões para o ano. Gigantes da indústria automobilística como GM e Ford já absorveram bilhões em tarifas, enquanto outras companhias correram para importar insumos antes da nova tributação.
Esse estoque antecipado, segundo analistas, tem retardado o impacto nos índices oficiais de inflação. Mas esse “colchão” está com os dias contados. Para Andrew Wilson, vice-secretário-geral da Câmara de Comércio Internacional, o efeito inflacionário deve ser sentido entre o final deste ano e o primeiro trimestre de 2026: “As empresas ainda estão queimando seus estoques. Quando isso acabar, os preços vão subir com força.”
Setor de bens de consumo sofre
O setor de bens de consumo e alimentos tem enfrentado dificuldades desde a pandemia. A resistência dos consumidores a pagar mais por produtos de marca persiste. A Nestlé, por exemplo, informou na semana passada que os consumidores na América do Norte ainda evitam aumentos nas gôndolas.
Desde os anúncios de Trump em abril, as ações da Procter & Gamble caíram 19%, Nestlé recuou 20%, Kimberly-Clark perdeu 11% e PepsiCo, quase 7%. Em contraste, o índice S&P 500 subiu mais de 13% impulsionado pelo setor de tecnologia.
Marcas de luxo e reajustes silenciosos
Algumas empresas conseguiram repassar aumentos sem prejuízo. O grupo suíço Swatch, por exemplo, elevou os preços em 5% após os anúncios tarifários de abril. Segundo o CEO Nick Hayek, “o impacto foi zero”. Ele explicou que o consumidor de marcas como Tissot é menos sensível a preços e, muitas vezes, compra produtos no exterior para fugir de tributações.
“Você não pode fazer isso com carros ou máquinas. Mas pode com relógios. Então, não é um grande problema para nós”, disse Hayek à Reuters.
O cenário, no entanto, é mais nebuloso para produtos essenciais. Em um ambiente de inflação represada artificialmente, estoques limitados e tarifas crescentes, o consumidor norte-americano caminha para uma inevitável conta mais alta no fim das compras — enquanto o governo Trump mantém sua política de confrontação tarifária como bandeira econômica.
Por https://www.brasil247.com/