Eduardo Bolsonaro "queima" Tarcísio com Trump e tenta isolar governador nos EUA

Deputado articula desgaste de Tarcísio de Freitas junto à Casa Branca por recuo no apoio ao tarifaço e disputa interna pela sucessão de Jair Bolsonaro
 
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apoia agressão de Donald Trump ao Judiciário brasileiro (Foto: Reprodução )

247 - A tensão entre os principais nomes do bolsonarismo voltou a escalar, agora com foco nos bastidores da diplomacia entre Brasil e Estados Unidos. Segundo a coluna da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, integrantes da comitiva do Senado brasileiro que esteve em Washington identificaram uma operação articulada pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para minar a imagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), junto ao governo do presidente estadunidense Donald Trump.

O pano de fundo é a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA, medida apoiada inicialmente por Tarcísio, que recuou diante da pressão do agronegócio e da indústria paulista. Esse reposicionamento, no entanto, teria provocado forte irritação no entorno de Trump. Segundo dois senadores que participaram da missão diplomática, Tarcísio passou a ser tratado nos EUA como “traidor” de Jair Bolsonaro (PL), sob influência direta de Eduardo, que age para consolidar seu nome como herdeiro político do pai.

Ainda de acordo com a reportagem, um aliado próximo ao deputado, ressaltou que o mal-estar está relacionado aos recuos do governador e às críticas públicas que fez ao tarifaço. Tarcísio chegou a apagar um vídeo de sua posse como apoiador de Trump, onde aparecia com o boné “Make America Great Again”. Mais tarde, defendeu publicamente a busca por uma solução negociada com o governo estadunidense.

“Essa história de tarifaço foi um tiro no pé pro Tarcísio e pros governadores, quem vai apoiar isso? O Eduardo começa a se posicionar contra o Tarcísio para tentar manter o patrimônio do pai, mas não vai conseguir”, afirmou, sob condição de anonimato, um dos parlamentares que esteve na capital dos EUA.

As exportações de São Paulo para os EUA correspondem a 19% do total do estado, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A guerra interna ganhou corpo desde o anúncio do tarifaço por Trump em 3 de julho. Em resposta às investidas de Tarcísio por uma saída diplomática, Eduardo Bolsonaro chegou a chamá-lo de “servil” e o acusou de “desrespeitá-lo” ao se reunir com o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar.

Jair Bolsonaro tentou intervir no embate e orientou o filho a aliviar as tensões com Tarcísio. Eduardo e chegou a fazer gestos públicos de aproximação nas redes sociais, mas as divergências em torno da atuação contra o Supremo Tribunal Federal (STF), sobretudo a respeito da aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, seguem latentes.

A trégua durou pouco. Na última semana, o deputado voltou a ironizar declarações de Tarcísio durante evento da XP Investimentos, onde o governador defendeu a abertura de diálogo para mitigar os efeitos das tarifas.

Assessores de Tarcísio confirmaram à reportagem, que já perceberam a movimentação orquestrada por Eduardo para isolá-lo no cenário internacional. Apesar das críticas, o governador tem adotado discurso público de distanciamento da disputa presidencial. “Eduardo colocou na cabeça dele que ele é o candidato a presidente. Todo esse movimento é porque ele tem certeza disso”, confidenciou um interlocutor próximo ao governador.

Em entrevista à Veja em junho, Eduardo Bolsonaro admitiu pela primeira vez a intenção de concorrer ao Planalto caso Jair Bolsonaro continue inelegível até 2030, como determinou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desde então, tem reiterado esse desejo em falas nos EUA e transmissões ao vivo nas redes sociais. Seu aliado Steve Bannon, ideólogo da extrema direita dos EUA, tem apresentado o parlamentar como o “próximo presidente do Brasil” no podcast War Room.

Já Tarcísio reafirma a intenção de buscar a reeleição em São Paulo. Apesar disso, tem sido pressionado por setores do mercado financeiro e da elite empresarial para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)em 2026. Esses movimentos, aliados à sua postura moderada, incomodam setores do bolsonarismo mais radical. A presença em eventos como a Brazil Week em Nova York e o silêncio diante de ataques ao STF liderados por Jair Bolsonaro são vistos por aliados do ex-mandatário como sinal de infidelidade.

Por brasil247.com
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