Fernandão evitou que sócio viajasse com ele em helicóptero que caiu
Família foi visitar empresário, e atleta o aconselhou a sair da aeronave.
Ex-jogador e mais quatro pessoas morreram no acidente em Aruanã, Goiás.
Amigo e sócio do ex-jogador de futebol Fernandão, o empresário Alberto Pereira, conhecido como Betão, revelou que deixou, minutos antes da decolagem, o helicóptero onde o ex-atleta e mais quatro pessoas estavam em Aruanã (GO), rumo a um rancho às margens do Rio Araguaia. A aeronave caiu na madrugada de sábado (7), quando o grupo retornava à cidade, e matou todos os ocupantes.
Betão diz que decidiu de última hora não viajar com os amigos. "Eu estava dentro do helicóptero. Minha esposa e meus filhos chegaram naquele momento para me visitar, e ele [Fernandão] falou: 'Fica, sócio; fica, irmão. Nós só vamos jogar um baralhinho e voltamos daqui a pouco'. E não voltou", afirma o empresário, que era sócio do ex-jogador na empresa Planalto Indústria Mecânica Ltda. O helicóptero que caiu estava no nome da companhia, especializada em equipamentos de limpeza urbana.
O grupo estava voltando de um acampamento montado às margens do Rio Araguaia para a temporada de férias, no mês que vem, quando ocorreu o acidente. Dos cinco ocupantes, apenas Fernandão foi socorrido ainda com vida. "Nós o encontramos, e ele estava com múltiplas fraturas, mas ainda respirando com dificuldade. Fizemos o primeiro atendimento e o encaminhamos ao hospital", lembra o tenente Paulo César Almeida Timóteo, comandante do Corpo de Bombeiros de Aruanã.Além de Fernandão, morreram no acidente Antônio de Pádua, o "Bidó", primo do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSBD); Edmilson de Sousa Lemes, cabo da PM e presidente da Câmara Municipal de Palmeiras de Goiás; Milton Ananias, coronel aposentado da Polícia Militar e responsável por pilotar a aeronave; e Lindomar Mendes Vieira, funcionário da fazenda do ex-jogador.
Um vídeo feito por um morador mostra o momento do resgate. De ambulância, Fernandão chegou a ser levado ao Hospital Municipal de Aruanã, mas, segundo a unidade, o ex-jogador entrou na sala de emergência já sem vida.
Investigação
O helicóptero foi encontrado a cerca de 12 km da cidade e ficou completamente destruído. Os destroços ficaram espalhados em um raio de 200 metros. O perito Luiz Carlos Tavares, da Polícia Técnico-Científica, esteve com sua equipe no local e vai fazer um relatório que pode ajudar a entender o que ocorreu com a aeronave.
"Cada detalhezinho pode indicar a forma como provavelmente deve ter acontecido [o acidente]. Nós temos algumas suposições: pode ser questão climática, erro humano ou uma questão do próprio equipamento. Ou mesmo uma combinação desses fatores. A polícia está aqui para tentar elucidar essas questões", apontou.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também foi acionado para investigar as causas do acidente. Além disso, a Polícia Civil abriu inquérito para apurar o ocorrido. A delegada Bruna Coelho Soares, que deve começar a ouvir testemunhas nesta segunda-feira (9), diz que ainda não tem uma linha de investigação. "Nós precisamos analisar várias circunstâncias que envolvem o acidente, como a manutenção, a capacidade de tripulantes, se foi uma falha humana ou técnica, se há um crime, o que aconteceu de fato, quais as circunstâncias que envolvem esse acidente", explica.
Professor de Direito Aeronáutico da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Jorge Ferreira observa que a decolagem não deveria ter sido feita do acampamento à noite. "Ele não poderia fazer decolagem noturna por instrumentos. A única questão que nós precisamos descobrir é a natureza da operação, porque essas operações são recomendadas no período noturno apenas a partir de heliportos homologados", destaca.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave Esquilo, prefixo PT-YJJ, estava com a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) em dia e válida até fevereiro de 2015. Já o Certificado de Aeronavegabilidade venceria em fevereiro de 2019. As informações constam no site da Anac.
Em nota, a Fênix Manutenção e Recuperação de Aeronaves Ltda, responsável pelas inspeções do helicóptero, informou que as manutenções no modelo eram feitas "regularmente" e "de acordo com as exigências contidas no manual do fabricante e na legislação vigente". A Fênix ressaltou, ainda, que colabora com o Cenipa no fornecimento de informações.
Enterro
O corpo de Fernandão foi enterrado na tarde de domingo (8) sob uma forte salva de palmas, no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia. Centenas de pessoas, entre familiares, amigos e torcedores, acompanharam o sepultamento. O caixão foi levado em cortejo pelas ruas de Goiânia, em um caminhão do Corpo de Bombeiros.
O caixão foi carregado por familiares do ex-jogador e amigos, como o cantor sertanejo Leonardo e o atacante Iarley, que jogou com o ídolo no Goiás e no Internacional. Durante o sepultamento, as pessoas presentes rezaram e cantaram os hinos dos dois clubes.
Mulher de Fernandão, com quem tem um casal de gêmeos, de 11 anos, Fernanda Bizzotto Costa enalteceu as qualidades do marido. Ela também agradeceu aos amigos e ressaltou as conquistas do marido durante a vida. "Tudo o que ele veio fazer, ele fez. Ele está indo embora com o dever cumprido", disse.
Emocionado, o goleiro Harlei, de 42 anos, foi o primeiro jogador a comparecer ao velório do ex-atacante no domingo. Juntos, Harlei e Fernandão consquitaram vários títulos, como a Série B pelo Goiás em 1999, o pentacampeonato goiano, na temporada seguinte; e a Copa Centro-Oeste. "O Fernando era uma pessoa muito querida, estava sempre alegre e sorridente. Nos encontrávamos sempre no clube, pois seu filho jogava na escolinha do Goiás. É uma perda muito grande", afirmou Harlei.
O ex-jogador Túlio Maravilha, um dos principais atletas da história do Goiás, também esteve no velório e lamentou a perda do amigo. "Ainda não consigo acreditar. Era uma grande pessoa, um gentleman. Todos fomos pegos de surpresa com essa tragédia. O Fernandão tem cadeira cativa entre os maiores do Goiás e tinha um futuro promissor como dirigente ou comentarista."
Carreira
Fernandão nasceu em Goiânia e iniciou a carreira de jogador de futebol aos 8 anos, nas categorias de base do Goiás Esporte Clube. Entre os anos de 1995 e 2001, conquistou cinco campeonatos estaduais, duas Copas Centro-Oeste e um Brasileiro na Série B, sempre na posição de meia.
Depois, seguiu para a Europa, onde jogou pelo Olympique de Marselha e Toulouse, na França, quando passou a atuar como atacante. Também jogou no Al-Gharafa, do Qatar.
Em 10 de julho de 2004, Fernandão estreou com a camisa do Internacional em uma partida contra o Grêmio, quando foi o responsável pelo milésimo gol da história do clássico Gre-Nal. No Colorado, ele ainda foi o capitão do time nas conquistas da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2006. Em 2009, o atacante retornou ao Goiás e depois se transferiu para o São Paulo.
O ex-jogador se aposentou em 2011, quando estava no Tricolor Paulista. Passou, então, a participar da diretoria do Internacional e, mais tarde, assumiu o posto de treinador do clube. Recentemente, Fernandão estreou como comentarista do SporTV, onde participaria da cobertura da Copa do Mundo, entre 12 de junho e 13 de julho
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